ANÁLISE DE I CORÍNTIOS 2:10-16

A Revista Adventista deste mês nos brindou com uma pergunta/resposta acerca do texto de I Coríntios 2:10-16.

- VEJA A CONTRIBUIÇÃO DO PROF AZENILTO G. BRITO NO FIM DO ESTUDO -

AGORA COM A RESPOSTA DO AUTOR DO ESTUDO SOBRE I Cor 2:10-16

Para entender esse texto, seria importante ler todo o seu contexto.

Os capítulos 1 e 2 de I Cor. vêm mostrando a oposição entre a sabedoria humana e a sabedoria divina (cap. 1:18-25,30; 2:1-9). As “palavras ensinadas pela sabedoria humana” são limitadas pelo “espírito (pneuma) do mundo” naqueles que são movidos ou recebem este espírito (cap. 2: 12 e 13), o qual restringe o entendimento às coisas mundanas, impedindo o discernimento das coisas espirituais (v. 14). Ao passo que os que recebem “o Espírito (pneuma) que vem de Deus” passam a conhecer “o que por Deus nos foi dado gratuitamente” (v. 12).

Paulo rejeita a “linguagem persuasiva de sabedoria” e resolve apresentar uma pregação que antes consiste “em demonstração do Espírito e de poder” para que a fé dos crentes coríntios “não se apoiasse em sabedoria humana e sim no poder de Deus”. (2:4 e 5)

Assim é que Paulo afirma que “expomos sabedoria entre os experimentados; não, porém, a sabedoria deste século, ... mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, outrora oculta, a qual Deus preordenou desde a eternidade para a nossa glória;   sabedoria essa que nenhum dos poderosos deste século conheceu; porque, se a tivessem conhecido, jamais teriam crucificado o Senhor da glória;” (2: 6-8).

 

Que “sabedoria de Deus em mistério” é esta que esteve “outrora oculta”? Deixemos que a Bíblia nos responda:

Romanos 16:25  Ora, àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério guardado em silêncio nos tempos eternos,

Efésios 3:3-5 e 9  pois, segundo uma revelação, me foi dado conhecer o mistério, conforme escrevi há pouco, resumidamente; pelo que, quando ledes, podeis compreender o meu discernimento do mistério de Cristo,, 5  o qual, em outras gerações, não foi dado a conhecer aos filhos dos homens, como, agora, foi revelado aos seus santos apóstolos e profetas, no Espírito, ... e manifestar qual seja a dispensação do mistério, desde os séculos, oculto em Deus, que criou todas as coisas,

Colossenses 1:26-27 o mistério que estivera oculto dos séculos e das gerações; agora, todavia, se manifestou aos seus santos;  aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da glória deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da glória;

Colossenses 2:2  para que o coração deles seja confortado e vinculado juntamente em amor, e eles tenham toda a riqueza da forte convicção do entendimento, para compreenderem plenamente o mistério de Deus, Cristo,

1 Timóteo 3:16  Evidentemente, grande é o mistério da piedade: Aquele que foi manifestado na carne foi justificado em espírito, contemplado por anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória.

Ver também Col. 4:3, Efés. 1:9 e 6:19.

Os versos seguintes do capítulo 2 de Cor. corroboram esta idéia:

 

“Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação.  Porque tanto os judeus pedem sinais, como os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios; mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus. ...”... “ Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção,” (1 Coríntios 1:21-24,30 RA)

Por isso Paulo podia dizer: “. 2  Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado.” (2:2).

O evangelho, o poder de Deus, é uma pessoa – Cristo, e Este crucificado –e tudo que está relacionado com Seu reino de graça e glória. São essas as boas-novas maravilhosas que “nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que O amam” (2:9).

Contudo, essas verdades são “escândalo para os judeus e loucura para os gentios” (v. 1:23). Daí o texto da pergunta:

“ Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito (pneuma), que nele está? Assim, também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito (pneuma) de Deus.” (1 Coríntios 2:11 RA)

O que o contexto está dizendo é que o homem natural não aceita a verdade do evangelho, ele não pode alcançar estas revelações maravilhosas por si mesmo, pois seu espírito só conhece as profundezas humanas. Estas verdades são “as coisas do Espírito de Deus” (2:14), são verdades divinas profundas, espirituais, e Deus no-las revela pelo Seu Espírito que nos é concedido (2:10 e 12). O homem, para discerni-las, precisa receber aquele espírito (pneuma) que conhece as profundezas de Deus, o Espírito de Deus. Todo conhecimento que Deus outorga de Si mesmo é por meio da dotação de Seu Espírito. É assim que ”o homem espiritual” (2:15), que recebe “o Espírito que vem de Deus” (2:12), “julga todas as coisas”, ou seja, passa a ter discernimento espiritual, pois ele passa a ter “a mente de Cristo” (2: 15-16), pela habitação de Seu Espírito no homem interior.

 

ANÁLISE TEXTUAL

Como afirma uma estudiosa em análise textual:

“O texto de II Cor. 2 é construído basicamente sobre paralelos (confrontos entre a sabedoria humana, também chamada sabedoria do mundo, e a sabedoria de Deus). Isto é evidenciado através das estruturas adversativas que opõem os dois tipos de sabedoria. Essas estruturas adversativas equivalem também a uma comparação entre argumentos orientados em direções opostas. Observe:

§        V. 4 – A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder,

§        V. 5 - para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus.

§        V. 6 e 7- Entretanto, expomos sabedoria entre os experimentados; não, porém, a sabedoria deste século, ... mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, ...

§        V. 12 - Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, ...

§        Vs. 14 e 15 - Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, ... Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por ninguém.

§        V. 16 - Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo.

 

O verso 11 não destoa de todo o contexto, pois também apresenta uma comparação que objetiva explicar o verso 10, que diz:

- “... o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus.”

Assim, para que o leitor possa compreender melhor o verso 10, que trata das profundezas de Deus, é estabelecida a comparação em uma esfera conhecida de todo homem, no verso 11:

- “Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim, também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus.”

A palavra “porque” é uma conjunção que introduz uma explicação. Observe que os termos comparados são os seguintes:

Comparado: o Espírito de Deus.

Comparante: o espírito do homem, este tomado como base para entender aquele.

Isso fica evidente ainda pelo uso do termo “também”, que além de denotar inclusão dentro desta categoria, liga dois argumentos orientados para uma mesma direção. Ou seja, o que ocorre na esfera divina é semelhante ao que ocorre na esfera humana.

Este recurso, como disse, é explorado do início ao fim deste capítulo e introduz o capítulo seguinte, no qual o apóstolo Paulo diz que gostaria de poder falar a espirituais ou a experimentados (2:6), mas teve de se contentar em se dirigir a bebês que necessitam de leite na fé (3:2).

 

Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, e sim como a carnais, como a crianças em Cristo. (1 Coríntios 3:1 RA)”

 

Vemos, portanto, que “assim, também” significa “da mesma forma”. A Bíblia de Jerusalém, inclusive, traduz os versos 11 e 12 deste modo:

“Quem, pois, dentre os homens conhece o que é do homem, senão o espírito do homem que nele está? Da mesma forma, o que está em Deus, ninguém o conhece senão o Espírito de Deus.

Portanto, é a própria Bíblia que faz a comparação.

 

O autor do artigo da RA afirma que “a primeira parte desse verso está falando do espírito do homem em relação ao homem, e a segunda parte está falando do Espírito Santo em relação às ‘profundezas de Deus’.”. Ora, se o conhecimento do espírito do homem está se referindo ao conhecimento das profundezas do homem, certamente o conhecimento do Espírito de Deus está se referindo ao conhecimento das profundezas de Deus, cada um na sua esfera.

Evidentemente, o “Espírito de Deus” é santo. Mas isso não é base para se afirmar que não está se referindo ao Espírito do próprio Deus. Muito menos é base para afirmar que se trata de uma Pessoa Divina distinta. Se não pudermos afirmar que o Espírito de Deus é Sua glória, Sua índole, Seu poder, Sua influência, Sua inspiração, a manifestação de Seu caráter ou de Si mesmo, ou Seus pensamentos, Sua mente e Sua vontade tomando o lugar da nossa, muito menos poderemos afirmar que o Espírito de Deus é uma terceira pessoa Distinta dEle mesmo, pois a Bíblia não O apresenta como uma Pessoa tal como apresenta o Pai e o Filho. Ainda que Estes não possuam um corpo físico limitado, quando Se manifestam em visões ou aparições ao homem, é em semelhança com a aparência física humana. Na realidade, fomos nós que fomos criados à imagem e semelhança de Deus, não Eles que assumem a nossa imagem e semelhança quando querem Se manifestar a nós. Fomos criados um pouco menores do que os anjos, com corpo, alma e espírito. Que base há para afirmar que isso não reflete o modelo maior? E ainda mais quando a mesma palavra utilizada para o nosso espírito e espírito de um modo geral, tanto no Antigo Testamento quanto no NT, é a mesma para o Espírito de Deus, sem distinção, mostrando que ambos praticam e sofrem ação, guardadas as proporções, ambos têm emoções, sentimentos, etc.

Nas principais cenas bíblicas relacionadas com a redenção humana como a volta de Cristo, o juízo e as glórias e recompensas da Nova Terra, onde o Pai e o Filho são mostrados em atuação conjunta, o Espírito Santo não aparece como pessoa distinta ou simplesmente nem é mencionado. E mesmo em relação à criação, o único texto que menciona a palavra “Espírito” é Gen. 1:2, um texto que até enseja uma tradução diversa da que é comumente encontrada, como a da Bíblia de Jerusalém.

Que Deus vos abençoe.

David Lima

 

Contribuição:

Caro irmão David

Saudações

 

       Primeiramente, não sei qual é a RA a que se refere. Que publicação é essa? Deveria mencionar para termos idéia, pois nos deixa assim no ar.

      Agora, dentro desse tema de 1a. Cor. 2, estes dias mesmo tive que responder alguém que usa tal passagem mas com uma conotação diferente: para "provar" que há um "espírito" no homem que seria a sua "alma imortal". O texto absolutamente não tem tal intenção de tratar de natureza humana.

       Mas aproveito para reproduzir como expus a ele a questão:

       O "Wellington" levanta mais duas passagens para tentar "provar" sua tese dualista:

       * "Se eu orar em outra língua, o meu espírito ora de fato, mas a minha mente fica infrutífera." Paulo.

       * "Cantarei com o espírito, mas também cantarei com a mente." Paulo.

       Mas será que tais textos realmente servem de prova que o homem tem uma natureza dualística — um corpo material, e dentro deste embutida uma alma imortal? É mesmo esse o ensino bíblico desde os fundamentos do que a Bíblia indica sobre a criação do homem?

Vejamos primeiro o texto de Cor. 14:14 e 15:

       "Porque, se eu orar em língua estranha, o meu espírito ora bem, mas o meu entendimento fica sem fruto. O que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com o entendimento; cantarei com o espírito, mas também cantarei com o meu entendimento".

       Como aparece a palavra "espírito" ele, como em várias ocasiões, logo alguns se abalam a dogmatizar que isso só pode referir-se à "alma", segundo o conceito popular de origem greco-romana do sentido de tal termo, como a entidade imaterial e imortal que permanece viva e consciente após a morte do corpo. Ou seja, já querem transferir para o Apóstolo os seus pressupostos dualísticos sem repararem no real sentido das palavras do autor bíblico ignorando que embora as palavras "alma" e "espírito" apareçam muitas vezes na Bíblia, elas JAMAIS

a – vêm modificadas pelos adjetivos "imortal", "eterno", "perene";  

b – têm indiscutível sentido de entidade abstrata e imortal que prevalece viva e consciente com a morte do corpo.

       Primeiro, seria interessante trocar a palavra "espírito" por "alma imortal" na passagem, já que para o dicotomista "Wellington" seria a mesma coisa:

       "Porque, se eu orar em língua estranha, a minha alma imortal ora bem, mas o meu entendimento fica sem fruto. O que farei, pois? Orarei com a alma imortal, mas também orarei com o entendimento; cantarei com a alma imortal, mas também cantarei com o meu entendimento".

       Será que a alma imortal dentro do indivíduo tem essa independência de raciocínio? E canta independentemente do entendimento? Seriam duas fontes de raciocínio--conhecimento, entendimento (mente e alma, ou espírito)?

       Há alguns hinos que trazem algo dessa linguagem. Vem-me à mente um famoso: "Canta minh’alma, glória a Ti, Senhor, grandioso és Tu. . ."

       Será que a alma imortal canta e ora independentemente do resto do corpo ou da mente, entendimento? Temos mesmo duas fontes de raciocínio, entendimento, conhecimento no homem? Quem sabe mais—o que procede da mente ou da alma/espírito? E como se desenvolvem?

       E o "Wellington" emprega ainda 1 Cor. 2:11 e 12 nessa linha de raciocínio, o que também parecerá bastante estranho ao adaptarmos o verso como fizemos com os analisados acima:

       "Mas qual dos homens sabe as coisas do homem senão [a alma imortal] do homem que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus senão [a Alma imortal] de Deus. Mas nós não recebemos [a alma imortal] do mundo, mas [a alma imortal] que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus".

       Percebem a mesma situação? Será que a alma ou espírito imortal sabe das coisas assim, independentemente da parte material do homem? Teria tal alma um raciocínio à parte (e até cordas vocais!)?

       Com isso lembramos do cântico de Maria:

       "A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador" (Luc. 1:46, 47).

       Agora as coisas se complicaram mais ainda! Maria (e todos nós) tinha uma alma imortal que, independentemente do corpo, engrandece a Deus? Mas e o seu espírito—que seria a mesma alma—como fica, alegra-se independentemente do corpo . . . e da alma?!

       Amigo "Wellington", por favor, esclareça-nos tudo isso detalhadamente. E aproveite para nos explicar I Tess. 5:23 à luz de Hebreus 4:12 ("alma" e "espírito" são citados em contraste com "juntas" e "medulas" e "pensamentos" e "intenções do coração" — coisas distintas).

"Alma" e "Espírito" Em Textos Neotestamentários

       No "Cântico de Maria" (Lucas 1:43ss), os termos "alma" e "espírito" representam a mesma coisa (usados intercambiavelmente), no sentido de suas atividades mentais, pois fala que sua alma/espírito louvam e se alegram no Senhor, sendo que a seguir dá as razões disso: ela recapitula os atos divinos para consigo e a sua nação, o que é ATIVIDADE DO ENTENDIMENTO.

       Em 1 Coríntios 2:10-16 a situação é idêntica. Não há como demonstrar que os comentários de Paulo em tais textos difiram da linguagem de Maria. As palavras "espírito" e "mente" são usadas intercambiavelmente, pois o "espírito do homem" "sabe as coisas do homem", e "temos a mente em Cristo", tal como o Espírito de Deus sabe as coisas de Deus.

       Tais palavras de modo algum servem para provar a posse de uma alma imortal pelo homem, como algo imaterial, imortal, que sobrevive à morte.

       Em 1 Coríntios 14:14 e 15 Paulo não está tampouco falando de qualquer alma imortal que ora independentemente do entendimento—função mental cerebral. A palavra "espírito" neste caso tem o mesmo sentido do que se acha em João 4:23, 24: ". . . a hora vem . . . em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. . . . Deus é Espírito, e importa que os que O adoram O adorem em espírito e em verdade".

       Também recordemos as palavras do Mestre ao transmitir a "lei áurea" (repetindo o que Moisés havia dito — ver Lev. 19:18 e Deut. 6:5):

       "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu espírito" (Mat. 22:37).

       É interessante observar que algumas versões trazem, "e de todo o teu entendimento", na última cláusula. Assim, confirma-se a noção de que o "espírito" do homem é o seu entendimento, como vemos em 1 Coríntios 2:10-16.

       Mas em 1 Coríntios 14:14 e 15 fica a impressão de que Paulo fala que o que se dá é exatamente o contrário—que espírito e entendimento são coisas à parte. Contudo, recordando as palavras de Cristo, "alma" e "espírito" acaso amam e adoram a Deus de modo independente entre si e o resto do indivíduo? Seria isso que Cristo está querendo ensinar? E o "de todo o teu coração", o que vem a ser?

       Orar com o espírito sem o acompanhamento do entendimento (nos dizeres de Paulo em 1 Coríntios 14) significa ter o homem uma "alma imortal"? Seria mesmo esse o enfoque do Apóstolo? Seria a intenção dele tratar da natureza humana, com tal "espírito" imortal embutido no ser?

       Claramente Paulo fala de orar no espírito no sentido de orar sob o domínio da emoção, suplantando a razão ("de todo o coração"?). Notemos, porém, que Paulo está REPREENDENDO os coríntios quanto ao seu mau emprego do dom de línguas, e não recomendando o seu uso nos moldes em que vinham praticando até ali. Ele está apresentando uma situação não ideal, e não traçando um perfil de como deveria ser a prática adequada deles.

       Mesmo levando-se em conta o devido dom, como algo sobrenatural, temos o exemplo da visão em que Paulo experimentou tal arrebatamento de sentidos que NÃO SABIA se estava no corpo, ou fora do corpo (II Coríntios 12:2, 3). Foi algo acima da razão e entendimento pelo que o seu "espírito" (não uma alma imortal que experimenta algo independente da mente), ou seja — os aspectos emocionais, inspiracionais, verdadeiramente íntimos do seu ser, prevaleceram temporariamente sobre as funções mentais ordinárias, racionais, mentais.

       É interessante que já há quem alegue que a "alma" ou "espírito" de Paulo deixou o corpo nesse caso. O problema é que quem pensa assim terá que explicar o que entrementes se deu com o corpo de Paulo, pois sendo que "o corpo sem o espírito [fôlego de vida] está morto" (Tiago 2:24), Paulo teria morrido em tal circunstância! Ou será que o apóstolo morria toda vez que tinha uma visão, daí ressuscitava para escrever suas epístolas, depois morria de novo, ao ter nova visão, e ressuscitava, e morria de novo, e ressuscitava. . .?

       Essas expressões de modo algum servem de prova da teoria da imortalidade da alma. Querer "provar" tal tese pelo mero uso das palavras "alma" e "espírito" é uma tremenda petição de princípio, nada mais. É fruto de pura especulação, numa tentativa claramente inútil de encontrar provas para algo que não conta com respaldo escriturístico, fruto da primeira mentira proferida pelo diabo sobre a face deste planeta, "Certamente não morrereis" (Gên. 3:4).

        Pois bem, resolvidas as questões que ele nos levanta (4 perguntas) que tal ele nos responder agora o mesmo número de perguntas?

       1 - Por favor, já que se inclina a crer em almas ou espíritos imortais de que o homem seria possuidor, poderia descrever-nos tais "almas" em detalhes, inclusive indicando em que parte do corpo se acha?

       2 - Além da visão simbólica das almas, em Apo. 6:9, 10, teria condições de indicar outra passagem bíblica NÃO SIMBÓLICA, claramente didática, expositiva, de almas conscientes no céu, inferno, purgatório, ‘sheol’, ‘hades’, seio de Abraão, Paraíso, tártaro, limbo, Olimpo, Campos Elíseos, ou qualquer outro "departamento do além" que se têm imaginado?

       3 - Quando exatamente a alma é introduzida no indivíduo? Já vem no espermatozóide? Está no óvulo? Divide-se "mezzo a mezzo", vindo tanto do pai quanto da mãe? Entra na hora em que o bebê sai do ventre materno e enche os pulmões de "fôlego de vida"?

       4 - Quando o indivíduo morre, sua alma viaja para céu, inferno, purgatório, ‘hades’, ‘sheol’, limbo, etc., conduzido por quem? Ou já sabe que destino seguir? Se sabe, onde e quando aprendeu?

 

Abraços

Prof. Azenilto G. Brito

Ministério Sola Scriptura

Bessemer, Ala., EUA

 

RESPONDENDO ao Professor...

 

Prezado Prof. Azenilton

 

Inicialmente, queremos deixar bem claro que rejeitamos terminantemente a doutrina da imortalidade da alma e o conceito dualista esboçado por 'Wellington'. Portanto, o que o irmão responde às colocações deste, em nada se aplicam ao que escrevemos. Preferiríamos que o irmão tivesse respondido dentro do que afirmamos e não em relação às idéias de Wellington, pois ambas são diametralmente opostas, como o irmão mesmo afirma, possuem “uma conotação diferente”. Para um leitor menos atento, o irmão poderia estar passando a idéia de que comungamos com os pensamentos de Wellington, o que não é real. Espero também que não tenha sido esta a sua intenção.

É evidente que o texto de I Cor. 2:11 não está tratando da natureza humana e nem afirmamos isso. Afirmamos que o contexto estabelece oposição entre a sabedoria humana e a sabedoria divina, e nesse contexto, no verso 11, o espírito do homem, mencionado em relação com o conhecimento e sabedoria humanos, é citado como um exemplo conhecido para se entender o desconhecido – o Espírito de Deus em relação com o conhecimento e sabedoria de Deus, e como ambos estão relacionados com o conhecimento na sua própria esfera. Como o irmão mesmo nos esclarece, o “Espírito de Deus”, no contexto de I Cor. 2, é mencionado de forma intercambiável com a “mente de Cristo”, ou o “pensamento de Cristo”, como traduz a Bíblia de Jerusalém.

Afirmamos também que se quisermos sair da nossa esfera restrita de conhecimento, será apenas pelo Espírito de Deus (a mente de Cristo, neste contexto), ao recebê-Lo, enviado por Deus, em substituição ao nosso espírito (como o irmão confirma – nosso entendimento), mesquinho, restrito e limitado.

Quando comentamos sobre a natureza divina, quisemos apenas mostrar que este é somente mais um texto utilizado pelos trinitarianos para apoiar a doutrina da Trindade, ao afirmarem que a Bíblia, quando menciona o Espírito de Deus e o Espírito de Jesus Cristo, está tratando de uma 3ª pessoa distinta dEles mesmos, pois, como neste texto, Ele perscruta e conhece os pensamentos de Deus, e que, como o irmão mesmo demonstrou, tal não se aplica. O questionamento antrinitariano é em cima do que afirmam os trinitarianos. O artigo na Revista Adventista de maio/06 mencionado vem respondendo a esse questionamento antrinitariano, que, aliás, foi ensejado pelo uso trinitariano do texto em comento.

São justamente textos como I Cor. 2:11 e sua aplicação trinitariana, e textos como o utilizado por Wellington de I Cor. 14:14, 15 que nos fazem rejeitar a doutrina da Trindade, pois mostram que a Bíblia apresenta o espírito como algo extremamente dinâmico, mas não significando com isso e por isso que seja necessariamente independente de seu possuidor, pois, reiteramos, rejeitamos a doutrina da imortalidade da alma.

Como o irmão pode perceber por esses textos apontados, a linguagem bíblica, ao referir-se à palavra espírito, tanto o do homem quanto o de Deus, é muito semelhante, pois ambos são ativos, têm sentimentos, emoções, realizam muitas coisas extraordinárias, o que não constitui prova de que sejam entidades à parte de seu possuidor.

Pela ótica trinitariana, seríamos levados a aceitar que, além destes que o senhor citou, textos como Ezequiel 1:20-21,10:17, I Reis 22:21-24, Jó 4:15, Salmos 77:6, Isaías 19:14, Oséias 4:12, 5:4, Apocalipse 16:13-14, 1 João 4:1-3, e muitos outros, estão falando de entidades à parte destes que são mencionados, pois a linguagem mostra o espírito executando ações  por eles.

Não é muita incoerência afirmar que o espírito do homem, ao se entristecer (1 Samuel 1:15 RA), perturbar-se (Gênesis 41:8), desgostar-se (1 Reis 21:5 RA), ao nos impelir (Êxodo 35:21 RA), ao se apoderar de nós com outros sentimentos  (Números 5:14, 30; Juízes 9:23 RA), ao coagir-nos e constranger-nos (Jó 20:3; 32:18  RA), ao perscrutar (Salmos 77:6 RA), ao alegrar-se (Luc. 1:47), etc., é uma alusão à própria atividade e aspectos íntimos humanos, e que quando a Bíblia faz estas mesmas afirmações sobre o Espírito de Deus, então já não pode estar se referindo à própria atuação e aspectos de Deus?

Seguindo o mesmo raciocínio que o irmão utiliza para mostrar a improcedência da doutrina da imortalidade da alma, pela visão trinitariana, o que estaria o texto seguinte querendo dizer: “ seca-se a erva, e caem as flores, soprando nelas o hálito (ruach)  do SENHOR. ...;” (Isaías 40:7 RA), já que o hálito de Deus é apresentado como realizando a ação de soprar, e a palavra traduzida aí por hálito é a mesma que é traduzida por espírito. E que dizer das Suas narinas? (Êxodo 15:8  Com o resfolgar das tuas narinas, amontoaram-se as águas, as correntes pararam em montão; os vagalhões coalharam-se no coração do mar.; 2 Samuel 22:9, etc.). E dos Seus olhos? (Deuteronômio 11:12: terra de que cuida o SENHOR, vosso Deus; os olhos do SENHOR, vosso Deus, estão sobre ela continuamente, desde o princípio até ao fim do ano; Provérbios 15:3: Os olhos do SENHOR estão em todo lugar, contemplando os maus e os bons; etc. E da Sua face? Salmos 44:24,  Isaías 54:8,  Jeremias 18:23, Salmos 139:7  Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face?, etc.). E do Seu sopro? (Jó 26:13, Jó 27:3, Jó 32:8, Jó 34:14, Jó 37:10, Salmos 33:6,  Isaías 11:4,  2 Ts 2:8 e Jó 33:4: O Espírito de Deus me fez, e o sopro do Todo-Poderoso me dá vida), etc. Estão se referindo a algo que pertence a Deus, ou, por ser de Deus, assumem outra conotação?

Aliás, as igrejas que aceitam a doutrina da imortalidade da alma, em geral, aceitam a da Trindade, pois elas têm o mesmo princípio.

A igreja protestante conhecida como Conexão Cristã, da qual vieram José Bates e Tiago White, não cria na imortalidade da alma, e claro, nem na Trindade. Vê-se que nela havia coerência neste aspecto. Daí porque os pioneiros também não criam nestas duas doutrinas. O que uma doutrina como esta está fazendo em nosso meio?

Recomendamos o estudo que o irmão nos enviou aos que lutam com a doutrina da imortalidade da alma e o guardaremos como aplicações valiosas neste sentido, mas queremos deixar claro que não se aplicam ao que afirmamos.

Solicitaríamos também a todos que estejam dispostos a responder-nos, que o fizessem em referência ao que afirmarmos e não sobre idéias e colocações de outrem.

Ficamos agradecidos por isso.

 David Lima

 

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